quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Mariana de Carvalho Leu na Time Out...

E, no entanto, ela move-se

A principal empresária da noite lésbica da cidade não gosta de noitadas. Bruno Horta traça-lhe o perfil.

Só aos 25 anos é que começou a ir a bares e discotecas. E ainda hoje é pouco dada a noitadas. “Se, por exemplo, me perguntar se conheço o Lux, tenho de confessar que não, nunca lá fui”. Nada faria supor, portanto, que uma pessoa assim desse uma boa empresária da noite. E, no entanto, Cristina Almeida, de 40 anos, já anda no ramo há quase uma década.

É dona e sócia única dos bares Chueca e Lábios de Vinho (Bairro Alto) e da discoteca Maria Lisboa (Alcântara). Em tempos, dirigiu os restaurantes Só Petiscos e Inox, ambos no Bairro. Num negócio em que a presença masculina é, como se sabe, esmagadora, Cristina Almeida considera-se uma aventureira.

“Costumam dizer que fui a primeira mulher a abrir uma discoteca em Lisboa. Aventurei-me um bocado, é verdade. Sei que sou lutadora e quando meto uma coisa na cabeça levo-a até ao fim”, resume.

Dos três espaços, só o Lábios de Vinho se destina a um público variado. Abriu há cerca de dez anos, na Rua do Norte, e tornou-se uma mina de ouro. Ao fim-de-semana, está cheio de estudantes. Tantos, que fazem fila à porta.

A Maria Lisboa e o Chueca abriram em Março e em Setembro do ano passado, respectivamente. Dirigem-se ao público lésbico e ainda estão em fase de crescimento. Só lentamente começam a fazer parte dos hábitos nocturnos da maioria das lisboetas. Talvez porque, como diz a empresária, “as mulheres bebem menos do que os homens, saem menos vezes por semana, e são um público mais difícil”.

Ainda assim, não se pode dizer que a vida lhe corra mal. Pelo contrário. Cristina Almeida diz que ganha “algum dinheiro”. Bastante mais, pelo menos, do que quando era técnica comercial da marca L’Oréal. E garante que nas três casas trabalham 16 empregados que recebem salários acima da média.

“Tenho-me dado bem, acho que é a minha devoção ao Santo António”, diz, acrescentando que em cada uma das casas tem uma imagem do santo na prateleira das bebidas.
Nascida e criada em Lisboa, confessa que até aos 25 anos se interessava pelo sexo oposto. A homossexualidade só a descobriu depois. E a descoberta coincidiu com as primeiras saídas nocturnas.

Ainda se lembra bem da primeira vez que entrou numa discoteca lésbica: Memorial, no Príncipe Real. “Sabia ao que ia, mas fiquei chocada quando, atrás de mim, a um palmo da minha cara, vi duas mulheres aos beijos”, relembra. “Ainda estava baralhada com a minha orientação sexual nessa altura e chocou-me ver aquilo”.

Quando sugerimos a Cristina Almeida que os seus negócios estão a mudar a forma como as lésbicas se divertem em Lisboa, ela reage, dizendo que é exagero. E acrescenta: “As lésbicas sempre se divertiram na noite com o que havia. Aliás, quando abri a Maria Lisboa não foi com o intuito de ser uma discoteca lésbica, mas sim um espaço gay, onde pudessem entrar homens e mulheres. Mas começou a ser frequentado mais por mulheres”. Os homens também por lá param, mas em pouca quantidade.

Cristina considera que os espaços gays de Lisboa e outras cidades europeias costumam ser escuros e escondidos. E que a sua ideia de criar casas abertas e luminosas resultou. Basta ir ao Chueca ou à Maria Lisboa e comprovar: a decoração é arejada, moderna e ninguém se sente num gueto. Se mais não houver, é esta a sua marca pessoal na noite lésbica da cidade.

Sem comentários: